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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

PROVÉRBIO

Hoje sou ideia suspensa no ar,
aquela que te cerca, porém sem te tocar...
Espaços abertos, o tempo leva o livro que envelhece comigo,
e isso em nada é ruim!
Eis que com o tempo nasce na alma a arte de proverbiar...
Tocar o dia, aquele espaço sacro, já não é possível!
Aonde paramos, quem somos, o que fomos?
São idéias longas...
Hei de condensá-las e dar-lhes o sentido em poucas palavras...
Haverá de nascer um provérbio!
Mas as palavras saem desastradas;
Digo o que não posso, porém não digo tudo que queria...
Ainda há sentido nessa vinda, nesse encontro?
Após uma análise estéreo percebo que não consigo dizer-te;
Fogem as lembranças e indagações intimas...
O tempo mostra-se ermo,
a mim faltou a ação, o verbo...
Percebo que uma máxima me foge, falta-me o provérbio...

Marcelo Sarges de Carvalho

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Dia ou Noite

Viver o instante certo, comprimido, fatiado em doze pontos!
A mecânica sonora dos ponteiros já não se escuta!
A velha casa é um tempo oco, uma mãe sem filhos...
Eu vou seguindo idéias, criações, vivo lugares inéditos, recrio infâncias, vejo um primeiro beijo...
De repente, uma retomada urgente!
O relógio, mesmo calado, continua seu trabalho para me dizer que mais um dia chegou...
Lá, na sala oca, o relógio e o silêncio se disfarçam, criam identidades inversas para o mesmo seis...
Então, resta saber:
Você é do dia ou da noite?

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O SILÊNCIO

O silêncio possui corpo e grita entre os extremos da existência;
Ele incomoda e teima em se esconder dentro de nós;
É parte e não o todo...
Perceba!
O silêncio anuncia o agora e toda a sua urgência,
Castiga o amanhã e menospreza o que foi...
Ele me sorri, é terno quão o sorriso de criança;
Abraça-me, são braços de um amigo;
Beija-me então me sinto vivo...

MARCELO DE SARGES DE CARVALHO

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

À MEIA-NOITE

À meia-noite os pactos são velados...

Meia hora em que tudo se persigna pelas esteiras dessas ruas...

À meia-noite não há silêncio nem luz,

Abstrações ou traições...

Consolos, beijos e arrepios, tentam o risco mais sombrio,

Encontrar-te!

Nesse pacto roto venho ao teu pensar querendo, querer-te;

E vivendo do que me dizes...

A meia hora em uma noite de São Jorge!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Menina Maria

Menina Maria indaga sobre o beijo...
Menina Maria quer beijar!
Menina Maria sente o beijo no anoitecer e no sonhar...
Menina Maria se confessa, descobre por Deus que o que deseja, com tanta fé, é pecado!
Menina Maria conhece Inácio no dia que conheceu o pecado...
Menina Maria não soube dizer quão foi tomada pelos olhos de Inácio...
Então Maria e Inácio julgaram-se terra, pecado e chão!
O beijo inevitável...
Menina Maria pecou com boa intenção, amou com fé e sempre acreditou que um dia Deus entenderia...

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Diálogo Contemporâneo

Transitar entre olhares e vias, nas agudas horas;
Verbalizar o sentido, comer a vontade, devorar o mar...
Castigo físico, esse de nada me mata, apenas me compraz...
Eu sei, meio esquisito essa idéia! Principalmente, se tratando de meia hora atrás...
Contratos mal ditos, sentidos eternamente pueris;
Sim, é fácil! É fácil dizer ridiculamente o que penso...
Mas será que penso?
Por fim, para que tanta tinta no rosto e no desgosto?
Mistura áspera de mentira e covardia...

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A menina


(Para Giulietta Masina)

Menina, são tão dignos esses teus olhos;
Feitos de perfeito jeito ao teu rosto redondinho...
Se alguém nunca tenha ousado, pois eu te grito:
São castanhos e belos!
Belos e grandes...
Ainda hão de te confundir com uma pequena cigana...
E depois de contar-te da beleza dos teus olhos me vieste com tão singela pergunta:
Que cor é o castanho?
São e sempre serão a grandeza, a beleza e o grito por estes teus olhos!

Marcelo de Carvalho dos Santos

...


Caminho limpo, diga-me a razão para aliviar a queda?
Caminho limpo, mas o sol queima as minhas, as vossas retinas...
Deixe-me ajoelhar, pois o que não vejo sinto nas fieis pontas desses dez dedos...
A visão pouco me importa, quero a lida do regresso, a vida sentida pormenores relevos;
Relevos reveladores desse barro velho que, por certo, é parte de alguma rua seca, de algum bairro seco em algum país perdido...
Afinal, o que importa?
São apenas barros e dedos se reconhecendo... O meio e o fim vivendo a bondade do reencontro graças ao sol que cega!

Marcelo Sarges de Carvalho dos Santos

terça-feira, 11 de maio de 2010

VERSO

Um dia, no meio da tarde, eu, talvez, descubra o que fazer desse tempo...
Desse tempo que divide e mistura todas as ásperas identidades do verso...
O verso, esse, ficou torto seu moço!
Pegou chuva de corpo quente - igual a um moleque apressado!
Mas, por ser moleque, e, ainda por cima apressado, ria...
Ria, pois, mesmo torto, ele ainda sentiu o vento que passa pelo seu rosto;
E era como se fosse verso-moleque, solto, a corre quilômetros ao pé da ventania...

Marcelo Sarges de Carvalho dos Santos

MARÉ



Nossos pés molhados à beira do rio...
Nossos pés contam no leve passar da maré, horas e confissões...
Nossos pés entrelaçam-se, beijam-se, abraçam-se!
Nossos pés... Meu corpo, teu beijo, nosso abraço!
Nossos pés, túrgidos de tanta água, fazem uma ultima ação juntos:
Marcam, lado a lado, de ponta a ponta, o trapiche com nossas pegadas...
É que lá na beira a maré seca e o sol trata de esconder nossas marcas, nossa cumplicidade...

Marcelo Sarges de Carvalho dos Santos

quinta-feira, 6 de maio de 2010

PREÂMBULO




Hoje, um preâmbulo para o indeciso;
Mas, é nesse resumo que me asseguro...
Digo-me digno; cruel; humano; gentil...
Hoje, não há bem que maltrate e nem mal que afague...
O que se tem desse instante que, num piscar de olhos, conjuga-se passado?
Tem-se a minha necessidade, junta ou separada, com a tua necessidade!
Se juntas forem que haja amor entre nós...
Caso contrário conjuguemos, cada qual a seu modo, outras ações, outras pessoas, outras necessidades...

Marcelo Sarges de Carvalho dos Santos

terça-feira, 20 de abril de 2010

A Missa



A missa acabara e a menina de saia rodada se encontra dispersa, mas o seu olhar dignifica tal ato de isolamento (a verdade é que hoje, só hoje, não haverá a conversa com as outras meninas!); então, encontrou o velho balanço que, para ela, era um amigo, pois havia pouco tempo que perdera o hábito de passar às tardes entre altos e baixos; mas hoje queria o aconchego daquele lugar novamente – havia ali a velha necessidade humana de olhar para frente, porém com um pé seguro em algum tempo no passado...

Começara o balançar, querendo sempre que possível ir um tanto mais além; ela apoiava o pé com mais força em cada passagem pelo chão, deixando a marca do sapato mais vivo no barro batido... E a saia rodada da menina era levada pelo vento que batia para além do norte; havia harmonia entre o balanço e a pequena, talvez a cumplicidade da infância tenha deixado isso velado entre eles, como naquelas mais doces amizades que crescem no silêncio da distância... A sombra única projetada no chão era o sim para tal união.

O movimento já era uniforme, já não se podia ir mais longe... Nem mais alto, nem mais baixo, pois foi com uma mão sentenciadora que o balanço perdeu o encanto e passou novamente a um simplório banco de madeira pendurado a uma árvore; a velha amizade fora se acabando, a menina se afastando e o banco ficando, ficando, mais uma vez para trás...

A menina, nervosa, não fitava o rosto do coroinha que lhe apresentaria ao primeiro pecado; porém de uma inocência que até os anjos se interrogavam sobre a natureza de um primeiro beijo: pecado ou não? Creio que esse é um dos poucos momentos que os querubins se questionam sobre o bem e o mal!

Os olhos se encontravam unidos em uma conversa quase subliminar; não que não houvesse o que dizer (não, a questão não é essa!), mas como dizer? Creio que essa é a primeira vez na vida que passamos a situação de termos à vontade velada pelo momento; acredite, tudo isso nos é revelado em face dessa ultima brincadeira, depois desse ato cai os últimos anseios de criança... O coroinha oferece a mão à menina, ela retribui o ato concedendo a sua mão para que meio sem jeito, fiquem um tanto mais próximos. Eis que é chegada à hora! Ele a aproxima, a deixando acolhida contra o seu peito; agora o que é uniforme são as respirações... Daí em diante não compete a alguém revelar o futuro desse momento, o que resta agora é olhar...Vê que o vento continua a passar levantando e passando um frêmito no cabelo da menina e então tudo se consuma...

As horas mais quentes se apresentam e tanto o coroinha e a menina resolvem deixar a pouca sombra que havia de baixo da árvore- as mudanças de estações trazem sempre novos ângulos e a necessidade de outros lugares, pois os tempos de outono chega para uns com o mais doce cheiro primaveril...

Agora que tudo se encerra, fiquemos com a fluídez daquele lugar, aonde tudo se denota com um ar quimérico... Tal ar revela a necessidade extrema de ser; até que alguém se aconchegue novamente ao velho balanço, querendo ir sempre um tanto mais além, será possível? Esperemos até a próxima missa...


Marcelo sarges de Carvalho dos Santos

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Trindade


Desse silêncio que habita na casa e comigo;
Dele me torno amigo e dele tento, obstinadamente, fugir; é imagem e a ultima rosa que não abre; tal silêncio beija-me secamente o rosto e, a casa, me deixa atroz perante a vida que não pára;
Desse silêncio e dessa casa, sou parte, sou filho, sou parto...
Sou trindade!

Identidade


Meu nome, não digo, não trago, nem calo...
Identidade. Para que dizer, quando o que se quer é ser?
A vida passa longe João, Maria e José... Mas abraça o que não define, o que não possui nome...

Dias


Esses dias que nos chegam como lembranças e presença de um tempo incerto;
Há, na sua presença, algo de não ser... Um certo não saber que lhe faz sempre digno de um grande admirar!
Saiba fazer vida em tais dias, pois eles sofrem de estiagem em nossos olhos...
E, nesse intenso recriar, não se engane!
Esses dias não pertencem ao por vir, mas são filhos do agora...