
A missa acabara e a menina de saia rodada se encontra dispersa, mas o seu olhar dignifica tal ato de isolamento (a verdade é que hoje, só hoje, não haverá a conversa com as outras meninas!); então, encontrou o velho balanço que, para ela, era um amigo, pois havia pouco tempo que perdera o hábito de passar às tardes entre altos e baixos; mas hoje queria o aconchego daquele lugar novamente – havia ali a velha necessidade humana de olhar para frente, porém com um pé seguro em algum tempo no passado...
Começara o balançar, querendo sempre que possível ir um tanto mais além; ela apoiava o pé com mais força em cada passagem pelo chão, deixando a marca do sapato mais vivo no barro batido... E a saia rodada da menina era levada pelo vento que batia para além do norte; havia harmonia entre o balanço e a pequena, talvez a cumplicidade da infância tenha deixado isso velado entre eles, como naquelas mais doces amizades que crescem no silêncio da distância... A sombra única projetada no chão era o sim para tal união.
O movimento já era uniforme, já não se podia ir mais longe... Nem mais alto, nem mais baixo, pois foi com uma mão sentenciadora que o balanço perdeu o encanto e passou novamente a um simplório banco de madeira pendurado a uma árvore; a velha amizade fora se acabando, a menina se afastando e o banco ficando, ficando, mais uma vez para trás...
A menina, nervosa, não fitava o rosto do coroinha que lhe apresentaria ao primeiro pecado; porém de uma inocência que até os anjos se interrogavam sobre a natureza de um primeiro beijo: pecado ou não? Creio que esse é um dos poucos momentos que os querubins se questionam sobre o bem e o mal!
Os olhos se encontravam unidos em uma conversa quase subliminar; não que não houvesse o que dizer (não, a questão não é essa!), mas como dizer? Creio que essa é a primeira vez na vida que passamos a situação de termos à vontade velada pelo momento; acredite, tudo isso nos é revelado em face dessa ultima brincadeira, depois desse ato cai os últimos anseios de criança... O coroinha oferece a mão à menina, ela retribui o ato concedendo a sua mão para que meio sem jeito, fiquem um tanto mais próximos. Eis que é chegada à hora! Ele a aproxima, a deixando acolhida contra o seu peito; agora o que é uniforme são as respirações... Daí em diante não compete a alguém revelar o futuro desse momento, o que resta agora é olhar...Vê que o vento continua a passar levantando e passando um frêmito no cabelo da menina e então tudo se consuma...
As horas mais quentes se apresentam e tanto o coroinha e a menina resolvem deixar a pouca sombra que havia de baixo da árvore- as mudanças de estações trazem sempre novos ângulos e a necessidade de outros lugares, pois os tempos de outono chega para uns com o mais doce cheiro primaveril...
Agora que tudo se encerra, fiquemos com a fluídez daquele lugar, aonde tudo se denota com um ar quimérico... Tal ar revela a necessidade extrema de ser; até que alguém se aconchegue novamente ao velho balanço, querendo ir sempre um tanto mais além, será possível? Esperemos até a próxima missa...
Marcelo sarges de Carvalho dos Santos
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