
A muito procuro a recusa do encontro, as páginas são viradas pelo fluxo do vento que bate sobre o livro; um velho e grande livro... Recai, então, sobre o corpo o fatal peso das folhas mortas -a pele se ouriça a tal contato!
Desabo em sonhos de uma felicidade perene e aguda, como o vento que revira e revive as páginas já gastas do livro; olhos de um negrume celestial perpassam as imagens oníricas que possuo, são olhos tenazes...
Um pássaro anuncia o fim dos ventos que levou as nuvens para além... Além do rio, para além do próprio mar. Um gato que fora atraído pela movimentação das páginas do livro, agora cochila ou medita -não saberia dizê-lo!- plenamente com a placidez que tomou conta de tudo, após os fortes ventos!
O sol que entra pelas frestas do muro-vivo apeia-se no chão; ainda coberto de folhas secas; reavivando as cores, realçando o mosaico caprichoso que o vento deixara... A vida, em sua ânsia de propósito e histórias, deixou-me ali, esperando a próxima ventania que traria as novas nuvens; e os ventos, com uma força capaz de fazer mil naus atravessarem o oceano, derrubaria o livro (já não importando páginas do livro ou folhas do jardim, todas estariam mortas!) e acordaria o gato... Porém as folhas e eu continuaríamos ali a gastar horas e reflexões em tão familiar condição: eu criando raízes naquele lugar e as folhas servindo-me como visão do futuro impreterível...
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