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terça-feira, 20 de abril de 2010

A Missa



A missa acabara e a menina de saia rodada se encontra dispersa, mas o seu olhar dignifica tal ato de isolamento (a verdade é que hoje, só hoje, não haverá a conversa com as outras meninas!); então, encontrou o velho balanço que, para ela, era um amigo, pois havia pouco tempo que perdera o hábito de passar às tardes entre altos e baixos; mas hoje queria o aconchego daquele lugar novamente – havia ali a velha necessidade humana de olhar para frente, porém com um pé seguro em algum tempo no passado...

Começara o balançar, querendo sempre que possível ir um tanto mais além; ela apoiava o pé com mais força em cada passagem pelo chão, deixando a marca do sapato mais vivo no barro batido... E a saia rodada da menina era levada pelo vento que batia para além do norte; havia harmonia entre o balanço e a pequena, talvez a cumplicidade da infância tenha deixado isso velado entre eles, como naquelas mais doces amizades que crescem no silêncio da distância... A sombra única projetada no chão era o sim para tal união.

O movimento já era uniforme, já não se podia ir mais longe... Nem mais alto, nem mais baixo, pois foi com uma mão sentenciadora que o balanço perdeu o encanto e passou novamente a um simplório banco de madeira pendurado a uma árvore; a velha amizade fora se acabando, a menina se afastando e o banco ficando, ficando, mais uma vez para trás...

A menina, nervosa, não fitava o rosto do coroinha que lhe apresentaria ao primeiro pecado; porém de uma inocência que até os anjos se interrogavam sobre a natureza de um primeiro beijo: pecado ou não? Creio que esse é um dos poucos momentos que os querubins se questionam sobre o bem e o mal!

Os olhos se encontravam unidos em uma conversa quase subliminar; não que não houvesse o que dizer (não, a questão não é essa!), mas como dizer? Creio que essa é a primeira vez na vida que passamos a situação de termos à vontade velada pelo momento; acredite, tudo isso nos é revelado em face dessa ultima brincadeira, depois desse ato cai os últimos anseios de criança... O coroinha oferece a mão à menina, ela retribui o ato concedendo a sua mão para que meio sem jeito, fiquem um tanto mais próximos. Eis que é chegada à hora! Ele a aproxima, a deixando acolhida contra o seu peito; agora o que é uniforme são as respirações... Daí em diante não compete a alguém revelar o futuro desse momento, o que resta agora é olhar...Vê que o vento continua a passar levantando e passando um frêmito no cabelo da menina e então tudo se consuma...

As horas mais quentes se apresentam e tanto o coroinha e a menina resolvem deixar a pouca sombra que havia de baixo da árvore- as mudanças de estações trazem sempre novos ângulos e a necessidade de outros lugares, pois os tempos de outono chega para uns com o mais doce cheiro primaveril...

Agora que tudo se encerra, fiquemos com a fluídez daquele lugar, aonde tudo se denota com um ar quimérico... Tal ar revela a necessidade extrema de ser; até que alguém se aconchegue novamente ao velho balanço, querendo ir sempre um tanto mais além, será possível? Esperemos até a próxima missa...


Marcelo sarges de Carvalho dos Santos

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Trindade


Desse silêncio que habita na casa e comigo;
Dele me torno amigo e dele tento, obstinadamente, fugir; é imagem e a ultima rosa que não abre; tal silêncio beija-me secamente o rosto e, a casa, me deixa atroz perante a vida que não pára;
Desse silêncio e dessa casa, sou parte, sou filho, sou parto...
Sou trindade!

Identidade


Meu nome, não digo, não trago, nem calo...
Identidade. Para que dizer, quando o que se quer é ser?
A vida passa longe João, Maria e José... Mas abraça o que não define, o que não possui nome...

Dias


Esses dias que nos chegam como lembranças e presença de um tempo incerto;
Há, na sua presença, algo de não ser... Um certo não saber que lhe faz sempre digno de um grande admirar!
Saiba fazer vida em tais dias, pois eles sofrem de estiagem em nossos olhos...
E, nesse intenso recriar, não se engane!
Esses dias não pertencem ao por vir, mas são filhos do agora...