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sexta-feira, 14 de novembro de 2008

conversa de bar


( para Érika Canavarro)
Nas cinzas do meu último cigarro iam as promessas de nunca mais vê-lo. A idéia daqueles olhos sentenciadores crivando-me a alma era inconcebível...

Na fumaça, surgiam umas formas que a minha mente, cansada de pensar no fim, tratava de identificar como algum objeto do dia-a-dia; de repente, surge uma rosa em minha frente... Era cinza e de uma beleza ingrata.

Ingrata, pois trazia a mácula de todos os meus vícios; da energia desprendida para o nada. Era cinza a coitada. E assim era, porque foi fruto da minha essência dependente; dependente de ti, do carinho da mãe, do abraço do pai e do amigo de toda uma história de solidão, o cigarro...


A fumaça, que outrora foi rosa, agora se evapora, levando a idéia de amor e de uma pessoa amada. Eu vou descendo a estrada da crença humana tecendo um fio, um único fio de esperança, sabendo que serventia ele só terá uma: será a corda que me enforcarei...

A luz apagou... Procuro, desesperada, o copo com café, encontro-o (graças a Deus!). Já não é possível sonhar e dá forma à fumaça do cigarro; o café está frio e amargo -será esse o gosto da liberdade?

terça-feira, 11 de novembro de 2008

FADO


Belém, tem esse porém... Assim que as rodas se acabam, os tambores e os banjos já não tocam fica para o belenense todo aquele sabor do fado de Portugal.

Andar pelas ruas próximas ao palácio Antônio Lemos, às três da manhã, denota uma natureza tão nossa, porém, muitas vezes, fazemos questão de escondê-la atrás das nossas alegrias que seguem, sempre depois de uma bela chuva...

Chuva das três da tarde, das cinco da manhã; nem ela, outrora tão fiel, vem lavar do peito essa dor... Pois na cidade velha, às três da manhã, não há ninguém tocando fado, mas meu peito ressoa a melodia triste que sai dos casarios...

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

A PRAÇA


Eu, preso por uma tarde de chuva, vou àquela praça... A chuva molhou as folhas das árvores, deixando um aroma de lembrança por todo o ar; olhando um pouco mais, percebo que não há pessoas, gritos ou vozes -a praça era tão íntima de todas as minhas idéias!

Os bancos, ainda úmidos, eram a ligação entre tempos distintos; e o céu, com seu rubro no horizonte e de resto todo negro; embriagava os meus olhos, quase te trazendo de volta...
Porém, o negro de uma noite sem estrelas cobriu o parco rubro do horizonte! As luzes artificiais acederam-se, mas a diferença era clara! A luz já não possuía o encanto e aos poucos a tua idéia e imagem sumiam daquele lugar...
A noite mostrava seus atrativos, porém, naquele dia, tinha eu o refúgio das recordações, já vagas! O vento frio que bateu me fez, de súbito, reler a tua alma e reviver o teu abraço... Aí, percebi que podia deixar a praça, pois o que queria se realizara em um vento frio de um dia atípico de outubro, te sentir novamente...

sábado, 8 de novembro de 2008

ALIANÇA


Calaram-me! Atingiram-me em um ponto sem defesa, levaram-me a parca dignidade; o sorriso- o que ainda possuía- e a verdade do olhar...

Deixaram-me em um canto, com uma febre que queimava os meus olhos e deixa o meu queixo em convulsão -a beira de um colapso-; o corpo se estreitava na quina da sala. Anjos apareceram na minha frente; antes não tivessem aparecido, pois, com os olhos em chama, qualquer imagem celestial que aparecesse, confundiria com a mais medonha besta! Eu, com medo, praguejava contra eles algumas frases sem sentido lógico -tudo que eu queria ali era uma palavra escarlate para fazê-los parar!
Eles se aproximaram de mim, ungiram a minha face e confessaram-me algo; algo que os fez ter comigo uma aliança de mil anos... Partiram.
Hoje, sempre que me encontro só, tenho a mesma febre que queima os olhos e o segredo reconfessado -é como se, novamente, escutasse anjos... E assim segue essa aliança.
MARCELO DE CARVALHO