
( para Érika Canavarro)
Nas cinzas do meu último cigarro iam as promessas de nunca mais vê-lo. A idéia daqueles olhos sentenciadores crivando-me a alma era inconcebível...
Na fumaça, surgiam umas formas que a minha mente, cansada de pensar no fim, tratava de identificar como algum objeto do dia-a-dia; de repente, surge uma rosa em minha frente... Era cinza e de uma beleza ingrata.
Ingrata, pois trazia a mácula de todos os meus vícios; da energia desprendida para o nada. Era cinza a coitada. E assim era, porque foi fruto da minha essência dependente; dependente de ti, do carinho da mãe, do abraço do pai e do amigo de toda uma história de solidão, o cigarro...
A fumaça, que outrora foi rosa, agora se evapora, levando a idéia de amor e de uma pessoa amada. Eu vou descendo a estrada da crença humana tecendo um fio, um único fio de esperança, sabendo que serventia ele só terá uma: será a corda que me enforcarei...
A luz apagou... Procuro, desesperada, o copo com café, encontro-o (graças a Deus!). Já não é possível sonhar e dá forma à fumaça do cigarro; o café está frio e amargo -será esse o gosto da liberdade?